quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O Nordeste e seu tesouro

Para mim, Nordeste e Vó sempre foram uma das combinações mais perfeita da vida. É uma região amável, receptiva e calorosa, ou seja, tudo que uma Vó tem também!

E minha Avó materna veio de lá, veio do Ceará, terra linda, de puro sol!

Ela, como a grande maioria dos nordestinos nas décadas passadas, veio para São Paulo tentar a vida na cidade grande com seus filhos, após uma separação com o marido que não queria muito saber de respeitar a família.

Aqui a família cresceu, os filhos casaram e deram netos para ela, que, segundo anotação dela, que foi achada numa bíblia esses dias “quando Deus pensou nos netos, ele se espelho nos anjos”. E foi aí que pude conhecer uma das pessoas mais brilhantes da minha vida: Dona Vanda.

Leão de Chácara, que nunca abaixou a cabeça e sempre lutou pelo bem dos outros e de si.

Um dia ela retornou para a cidade dela, viu que nessa cidade cinza não há muito amor. Mas nunca, jamais, deixou de estar presente – mandava cartas e mais cartas, sempre recheadas de amor e muita fé!

Aí que a vida veio com aquelas marés malucas, meus pais se separaram no auge dos meus 14 anos – momento em que você é adolescente e detesta o mundo.

Tive problemas para entender essas mudanças e, sem saber muito como, fui parar lá em Fortaleza. A Dona Vanda estava à minha espera, para domar minha rebeldia.

Por um ano morei com ela, levava altas broncas, recebia os melhores conselhos e os melhores cuidados – ela cuidava do meu cabelo semanalmente, cada dia com um produto novo!

Resolvi voltar, queria mostrar para os meus pais, amigos e pra vida, que entendi como ela funciona. Sempre vivendo um dia de cada vez, e sempre aproveitando tudo o que a vida tem a oferecer.

E aí voltamos nossa relação de amor à distância, com cartas, ligações, visitas...

Aposentada, ela nunca deixou de ‘trabalhar’. Católica fervorosa, ajudava na igreja, ajudava nos asilos, ajudava mãe solteiras e cuidava da família. Para cada atividade, ela tinha uma função e cronogramas. Levava muito a sério!

Ano passado o Los Hermanos resolveu fazer uma turnê de reencontro da banda, e uma das cidades escolhidas foi Fortaleza.

Óbvio que aproveitei a união da banda que mais admiro, com a cidade mais linda, para passar um fim de semana lá, com a minha Vó e minha Mãe – que depois de um tempo também percebeu que essa cidade cinza não tem muito amor para oferecer.

Foi um fim de semana sensacional: praia, colo de vó e mãe, sorvete 50 sabores, Los Hermanos na beira da praia e... voo perdido.

Às 3 da manhã, a Dona Vanda entra no aeroporto para salvar nossas vidas, e diz: calma, tudo vai ficar bem, amanhã vocês estão de volta. E deu certo!

Como sempre, serena, forte e guerreira!

Dois meses depois, sei lá o porquê (porque nunca saberemos o motivo real dessas coisas da vida), ela se foi.

Não tinha doença, não tinha preguiça, não tinha medo. Mas se foi... Para outra missão.

Ainda não fez um ano, a ferida não se fechou –e talvez nunca se feche -, mas é sempre muito bom lembrar que eu sim tive um anjo em minha vida!



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