Para mim, Nordeste e Vó sempre foram uma das combinações
mais perfeita da vida. É uma região amável, receptiva e calorosa, ou seja, tudo
que uma Vó tem também!
E minha Avó materna veio de lá, veio do Ceará, terra linda,
de puro sol!
Ela, como a grande maioria dos nordestinos nas décadas
passadas, veio para São Paulo tentar a vida na cidade grande com seus filhos, após
uma separação com o marido que não queria muito saber de respeitar a família.
Aqui a família cresceu, os filhos casaram e deram netos para
ela, que, segundo anotação dela, que foi achada numa bíblia esses dias “quando
Deus pensou nos netos, ele se espelho nos anjos”. E foi aí que pude conhecer uma das pessoas mais brilhantes
da minha vida: Dona Vanda.
Leão de Chácara, que nunca abaixou a cabeça e sempre lutou
pelo bem dos outros e de si.
Um dia ela retornou para a cidade dela, viu que nessa cidade
cinza não há muito amor. Mas nunca, jamais, deixou de estar presente – mandava
cartas e mais cartas, sempre recheadas de amor e muita fé!
Aí que a vida veio com aquelas marés malucas, meus pais se
separaram no auge dos meus 14 anos – momento em que você é adolescente e
detesta o mundo.
Tive problemas para entender essas mudanças e, sem saber
muito como, fui parar lá em Fortaleza. A Dona Vanda estava à minha espera, para
domar minha rebeldia.
Por um ano morei com ela, levava altas broncas, recebia os
melhores conselhos e os melhores cuidados – ela cuidava do meu cabelo
semanalmente, cada dia com um produto novo!
Resolvi voltar, queria mostrar para os meus pais, amigos e
pra vida, que entendi como ela funciona. Sempre vivendo um dia de cada vez, e
sempre aproveitando tudo o que a vida tem a oferecer.
E aí voltamos nossa relação de amor à distância, com cartas,
ligações, visitas...
Aposentada, ela nunca deixou de ‘trabalhar’. Católica
fervorosa, ajudava na igreja, ajudava nos asilos, ajudava mãe solteiras e
cuidava da família. Para cada atividade, ela tinha uma função e cronogramas.
Levava muito a sério!
Ano passado o Los Hermanos resolveu fazer uma turnê de
reencontro da banda, e uma das cidades escolhidas foi Fortaleza.
Óbvio que aproveitei a união da banda que mais admiro, com a
cidade mais linda, para passar um fim de semana lá, com a minha Vó e minha Mãe
– que depois de um tempo também percebeu que essa cidade cinza não tem muito
amor para oferecer.
Foi um fim de semana sensacional: praia, colo de vó e mãe,
sorvete 50 sabores, Los Hermanos na beira da praia e... voo perdido.
Às 3 da manhã, a Dona Vanda entra no aeroporto para salvar
nossas vidas, e diz: calma, tudo vai ficar bem, amanhã vocês estão de volta. E
deu certo!
Como sempre, serena, forte e guerreira!
Dois meses depois, sei lá o porquê (porque nunca saberemos o
motivo real dessas coisas da vida), ela se foi.
Não tinha doença, não tinha preguiça, não tinha medo. Mas se
foi... Para outra missão.
Ainda não fez um ano, a ferida não se fechou –e talvez nunca
se feche -, mas é sempre muito bom lembrar que eu sim tive um anjo em minha
vida!
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