Há meses tento pensar em algo para escrever neste espaço,
como forma de colocar pra fora a angustia de perder um amigo de forma violenta.
Sei que não fomos os primeiros e nem seremos os últimos a
perder um pedaço importante de nós para a violência da cidade grande. Então,
prefiro seguir tentando olhar o outro lado, tentando achar um lado ‘bom’ nisso,
para não viver na amargura.
Há uns 7 anos conheci um cara, chato pra caralho, daqueles chatos que você quer sempre por perto. Ele tinha o espírito velho para nossa idade, não curtia sair, e se saía tinha que voltar cedo; ele não curtia dormir fora de casa; não curtia pagar para ver shows de bandas que gostava; não curtia comprar tênis e sempre estava pedindo para darmos um tênis novo para ele.
Tinha uma companheira desde sempre, menina maluca que passa horas sentada comigo papeando coisas importantes ou não, com um único objetivo: sempre falar de tudo e todos hahahaha. Ele não podia ver nós duas juntas que já dizia “já estão fofocando?”.
A minha conversa com ele era sempre resumida em duas frases “você é um velho” e “você é uma louca”. Mas uma coisa era verdade, tínhamos uma consideração monstra um pelo outro.
Tinham duas coisas que a gente sempre estava de acordo. Uma era o Los Hermanos, sempre estávamos prontos para ouvir e ficar dançando por aí, de olhinho fechado e mãozinha pra cima \o/; A outra, andar de bicicleta! Ele pesava na minha e na do Bal quando demorávamos a marcar um rolê de bike.
Sossegado até demais, toda vez que percebia uma confusão eminente (simples, boba ou complexa) era o primeiro a pular fora e dizer “não gosto de confusão, to saindo fora”. Ou sempre pedindo “calma, mew”, pra tudo. Até irritava.
A única coisa que ele curtia debater e passar horas discutindo era sobre o sistema, se dizia punk e eu tirava onda. Numa festa qualquer, bebeu de passar mal e, ao vomitar, soltou a celebre frase: isso aqui é o sistema, estou vomitando o sistema.
Isso virou motivo de chacota para todo o sempre, fato! Hahahaha
Em maio desse ano, 2 moleques interceptaram a moto dele na Av. Interlagos, cruelmente deram um tiro no peito dele, levaram a moto e deixaram a mina dele completamente desamparada no meio da rua.
Desde então, não consigo apagar da mente esse dia, a minha ligação pra Nadja, a minha angustia de ter que dar a notícia para a galera e a revolta de perder uma pessoa que nunca pensou em fazer o mal nem pra uma mosca.
Anualmente organizamos um amigo secreto com nossa turma – fazemos uma confraternização com entrega de presentes. Ele estava em todas, enchia o saco porque nunca apoiávamos a ideia dele, a de pular de paraquedas juntos.
Esse ano não vai ser diferente, estamos organizando nossa confraternização. Porém, dessa vez, com um nó na garganta. Dessa vez vai faltar um pedaço da gente, mas optamos por manter, porque é isso, é a vida que segue e tem que seguir: por nós, por ele e pela esperança de dias melhores cheios de sorrisos!
E o lado bom disso tudo é que tivemos o privilégio de fazer parte da vida do Alan. Tivemos o privilégio de poder viver momentos engraçados e até irritantes com ele, mas momentos extremante importante para o resto de nossas vidas.
E por mais clichê que seja, fica sempre a lição: aproveitar cada momento da vida sem saber o dia de amanhã.
“Faço o melhor que sou capaz só pra viver em paz”